segunda-feira, 12 de julho de 2010

catching up

Andei adiando o momento de voltar a esses pagos, confesso. Os dias iam passando, os acontecimentos a serem narrados e comentados se acumulando, e a minha preguiça de começar só crescia. Deixei estar, já que os eventos em questão não mereciam ser contados de má vontade. Foram tantas coisas maravilhosas, que eu fiz questão de trazê-las todas pra cá em um dia de muita disposição pra escrita. E assim tá sendo meu domingo, um dia delicioso de sol, parque e soneca, gol da Espanha recém feito e ótimas notícias que eu acabo de receber do Brasil!
Além de tudo isso, um incidente tecnológico ocorrido na semana passada me convenceu de que eu deveria escrever logo: levei meu celular pro conserto e nele estavam todas as fotos que eu tirei em Biarritz. Deletaram tudo, meus contatos, minha agenda, e minhas fotos! Quase chorei... Preciso contar como foi, então, com detalhes, já que as imagens foram pro beleléu. Ok, não tantos detalhes, mas vai um overview, que já me ajuda a manter as memórias frescas e não constrange ninguém.
But, first things first. O último post falava sobre minha tensão pré-exames e sobre o mau momento que eu passava, er, emocionalmente. O desfecho? Expulsei as nuvens negras, em uma novela que me deixou bem combalida por alguns dias... mandar o temporal embora implicou também me desfazer de alguns momentos ensolarados dos meus últimos tempos de Brasil. E assim, meio broken hearted, meio atordoada com outras coisas que vinham acontecendo por aqui, fui dar conta de finalizar o Cuisine de Base e partir pras minhas aguardadas e merecidas férias. Fiquei uma pilha de nervos no exame prático final, e minha maior preocupação foi terminar o prato a tempo. Peguei a guinea fowl, uma ave de sabor marcante. Tarefa: fazer um mousse com a carne das pernas; passar o mousse pelo tamis; usá-lo pra rechear um ballotine feito com o peito; beurre de tomate e courgette spaghetti. No fim das contas, terminei adiantada, mas não aproveitei o tempo extra pra me esmerar mais na qualidade do meu prato. Passei, a nota foi ok, mas não fiquei exatamente orgulhosa. Aliviada, isso eu fiquei.
E como foi bom compartilhar essa sensação com o grupo que se formou na escola! Já é uma espécie de família, um bando que se vê nas aulas e fora delas, se dirige religiosamente ao pub da esquina depois das práticas na cozinha - escaldantes, nos últimos dias -, fala, ri, se diverte juntos... Pessoas muito especiais que já são parte essencial do meu dia-a-dia.
Passado o stress do exame, a gente queria mais era comemorar, claro. A cada final de termo, a escola organiza uma festa de formatura, e essa foi em Greenwich, no National Maritime Museum. Um lugar sensacional, aonde nós chegamos de barco, sob um entardecer em todos os tons de rosa-choque e cor-de-laranja. Todo mundo feliz, bonito, arrumado. E bêbado também, na medida em que a noite evoluía... Reservei o dia seguinte pra desfrutar minha ressaca e preparar minha bagagem pra uns diazinhos de sol, mar e dolce far niente em Biarritz...
Em três dias: pedalei pra cima e pra baixo entre Biarritz e Bayonne; caminhei por ruelas labirínticas; tostei no sol feito uma lagosta; mergulhei no mar gelado até não sentir mais os dedos do pé; li frases do Gainsbourg atirada na areia; me lambuzei com moules mariniéres e cerveja em uma mesa só minha, assistindo ao pôr-do-sol; vi a cidade em festa, com música por todos os cantos (era dia de Fête de la Musique pela Europa inteira) e quando cansava da minha companhia exclusiva, arranjei novos amigos.  Embarquei em Stansted no sábado com a cabeça cheia de caraminholas, e voltei pra lá, na terça, zen. Dolorida pelas queimaduras, mas definitivamente, em paz.
Dois dias depois, o que eu mais aguardava: minha mãe! Trabalhei nesses dois dias só pensando em como seria olhar pra ela e dar aquele abraço de urso, e não largar mais até ela pegar o avião de volta! Era tudo que eu tava precisando: colo de mãe; mimos; cuidados e até uma que outra briguinha daquelas nossas. A gente fez as pazes no minuto em que percebeu a besteira de perder tempo com isso. Foi muito bom mostrar pra ela a minha casa, meus amigos, minha vida, e fazer com ela desde passeios super especiais, até aquelas coisas que eu costumo fazer diariamente (sim, ela conheceu o Angel in the Fields, a filial londrina do Xirú Beer) - e que com ela junto, se tornaram inesquecíveis.  Juntas, nós:
- fomos pra Oxford, a convite do Sam, meu colega que é de lá. Foi um dia de sol, calor, vinho, piquenique e passeio de barco, diliça!;
- almoçamos no Le Gavroche, restaurante francês mais tradicional da cidade, meu sonho de consumo. Sensacional do amuse bouche aos pétits fours, e na companhia dela, então, once in a lifetime experience!;
- assistimos ao show do Macca no Hyde Park. Emocionante, principalmente nos trechos em que a gente se abraçava e cantava juntas, errando 80% das letras. Quem se importa?;
- fizemos uma noite em Shoreditch, bebendo mojitos servidos dentro de aquários na Casa Blu;
- fomos juntas até Brighton, de trem, só porque eu trabalharia ali perto no dia em que ela foi embora, e a gente queria ficar grudadas até o último minuto possível. Foi uma choradeira sem fim, cheguei no casamento com cara de louca, mas quem se importa (2)?
Cada instante foi único e eu já fiquei com saudades no momento em que saí daquele trem.
E no mesmo momento, me dei conta de que as férias haviam acabado. As aulas começaram na semana anterior, o novo trimestre logo mostrou a que veio e a vida voltava aos poucos ao normal. But then again: what the hell is ordinary here? Existe uma rotina, sim, que eu amo: pegar minha bicicleta; ir à aula; ao pub; trabalhar (ok, essa parte eu não aaamo taaanto assim, mas pudera: meu emprego é a própria Hell´s Kitchen, e ela fica em Wimbledon Park, ou seja, o outro extremo da cidade. Mas enfim, paga as contas, not complaining...). Afora isso, a cada momento novas impressões somam-se às antigas, os planos se expandem, as pessoas se revelam aos poucos... a melhor metáfora é a própria realidade: a cozinha é a mesma, o grupo idem, até mesmo muitos dos ingredientes estão constantemente no mise-en-place, mas a cada dia, a receita é diferente, os sabores mudam, muda a apresentação. E assim a vida segue, ora errando a mão, ora acertando...
minha mãe toda linda no Le Gavrochelá de cima, no sentido horário: mãe diante das opções infindáveis pro seu plateau de fromages; o prato dela - um magret de pato em seu jus, com passas, damascos e aspargos, sobre um purê... do que era o purê, mãe? Complementa aí, gentileza; eu beijando o sapo da nossa mesa. Não custa tentar, né?; mackerel e hamhock terrine, nossas entradas. A minha foi a terrine, acompanhada de pea shoots e uma salada de broadbeans e cogumelos selvagens, com um molho que me pareceu uma maionese, com um pouco mais de mostarda do que de costume. Sublime, como a sensação da terrine se desmanchando na boca. (Meu vocabulário gastronômico tá assim mesmo, misturando os idiomas, sorry for that! Alguns ingredientes que eu vejo aqui eu não conhecia antes, e outros eu uso tanto agora que os nomes em português já estão enterrados no fundo do baú.)
Eu e a Di em Brick Lane!oxford circus, 10.30 a.m.Rosella praticando a guinea fowl. Detalhe: desconjuntamos o bicho no dia em que um amigo dela, VEGAN, veio almoçar aqui. Creio que ele jamais irá se recuperar do trauma...
Comida sul-africana, noodles do wagamama e hollandaise na escola
Adoro essa livraria na Marylebone High Street. Só uma passada de olhos pelos títulos já melhora o meu humor!
Mãe é muito bom! Abaixo, o pub que a gente encontrou na margem do lago durante nosso passeio de barco em Oxford.Cenas da formatura!