Além de tudo isso, um incidente tecnológico ocorrido na semana passada me convenceu de que eu deveria escrever logo: levei meu celular pro conserto e nele estavam todas as fotos que eu tirei em Biarritz. Deletaram tudo, meus contatos, minha agenda, e minhas fotos! Quase chorei... Preciso contar como foi, então, com detalhes, já que as imagens foram pro beleléu. Ok, não tantos detalhes, mas vai um overview, que já me ajuda a manter as memórias frescas e não constrange ninguém.
But, first things first. O último post falava sobre minha tensão pré-exames e sobre o mau momento que eu passava, er, emocionalmente. O desfecho? Expulsei as nuvens negras, em uma novela que me deixou bem combalida por alguns dias... mandar o temporal embora implicou também me desfazer de alguns momentos ensolarados dos meus últimos tempos de Brasil. E assim, meio broken hearted, meio atordoada com outras coisas que vinham acontecendo por aqui, fui dar conta de finalizar o Cuisine de Base e partir pras minhas aguardadas e merecidas férias. Fiquei uma pilha de nervos no exame prático final, e minha maior preocupação foi terminar o prato a tempo. Peguei a guinea fowl, uma ave de sabor marcante. Tarefa: fazer um mousse com a carne das pernas; passar o mousse pelo tamis; usá-lo pra rechear um ballotine feito com o peito; beurre de tomate e courgette spaghetti. No fim das contas, terminei adiantada, mas não aproveitei o tempo extra pra me esmerar mais na qualidade do meu prato. Passei, a nota foi ok, mas não fiquei exatamente orgulhosa. Aliviada, isso eu fiquei.
E como foi bom compartilhar essa sensação com o grupo que se formou na escola! Já é uma espécie de família, um bando que se vê nas aulas e fora delas, se dirige religiosamente ao pub da esquina depois das práticas na cozinha - escaldantes, nos últimos dias -, fala, ri, se diverte juntos... Pessoas muito especiais que já são parte essencial do meu dia-a-dia.
Passado o stress do exame, a gente queria mais era comemorar, claro. A cada final de termo, a escola organiza uma festa de formatura, e essa foi em Greenwich, no National Maritime Museum. Um lugar sensacional, aonde nós chegamos de barco, sob um entardecer em todos os tons de rosa-choque e cor-de-laranja. Todo mundo feliz, bonito, arrumado. E bêbado também, na medida em que a noite evoluía... Reservei o dia seguinte pra desfrutar minha ressaca e preparar minha bagagem pra uns diazinhos de sol, mar e dolce far niente em Biarritz...
Em três dias: pedalei pra cima e pra baixo entre Biarritz e Bayonne; caminhei por ruelas labirínticas; tostei no sol feito uma lagosta; mergulhei no mar gelado até não sentir mais os dedos do pé; li frases do Gainsbourg atirada na areia; me lambuzei com moules mariniéres e cerveja em uma mesa só minha, assistindo ao pôr-do-sol; vi a cidade em festa, com música por todos os cantos (era dia de Fête de la Musique pela Europa inteira) e quando cansava da minha companhia exclusiva, arranjei novos amigos. Embarquei em Stansted no sábado com a cabeça cheia de caraminholas, e voltei pra lá, na terça, zen. Dolorida pelas queimaduras, mas definitivamente, em paz.
Dois dias depois, o que eu mais aguardava: minha mãe! Trabalhei nesses dois dias só pensando em como seria olhar pra ela e dar aquele abraço de urso, e não largar mais até ela pegar o avião de volta! Era tudo que eu tava precisando: colo de mãe; mimos; cuidados e até uma que outra briguinha daquelas nossas. A gente fez as pazes no minuto em que percebeu a besteira de perder tempo com isso. Foi muito bom mostrar pra ela a minha casa, meus amigos, minha vida, e fazer com ela desde passeios super especiais, até aquelas coisas que eu costumo fazer diariamente (sim, ela conheceu o Angel in the Fields, a filial londrina do Xirú Beer) - e que com ela junto, se tornaram inesquecíveis. Juntas, nós:
- fomos pra Oxford, a convite do Sam, meu colega que é de lá. Foi um dia de sol, calor, vinho, piquenique e passeio de barco, diliça!;
- almoçamos no Le Gavroche, restaurante francês mais tradicional da cidade, meu sonho de consumo. Sensacional do amuse bouche aos pétits fours, e na companhia dela, então, once in a lifetime experience!;
- assistimos ao show do Macca no Hyde Park. Emocionante, principalmente nos trechos em que a gente se abraçava e cantava juntas, errando 80% das letras. Quem se importa?;
- fizemos uma noite em Shoreditch, bebendo mojitos servidos dentro de aquários na Casa Blu;
- fomos juntas até Brighton, de trem, só porque eu trabalharia ali perto no dia em que ela foi embora, e a gente queria ficar grudadas até o último minuto possível. Foi uma choradeira sem fim, cheguei no casamento com cara de louca, mas quem se importa (2)?
Cada instante foi único e eu já fiquei com saudades no momento em que saí daquele trem.
E no mesmo momento, me dei conta de que as férias haviam acabado. As aulas começaram na semana anterior, o novo trimestre logo mostrou a que veio e a vida voltava aos poucos ao normal. But then again: what the hell is ordinary here? Existe uma rotina, sim, que eu amo: pegar minha bicicleta; ir à aula; ao pub; trabalhar (ok, essa parte eu não aaamo taaanto assim, mas pudera: meu emprego é a própria Hell´s Kitchen, e ela fica em Wimbledon Park, ou seja, o outro extremo da cidade. Mas enfim, paga as contas, not complaining...). Afora isso, a cada momento novas impressões somam-se às antigas, os planos se expandem, as pessoas se revelam aos poucos... a melhor metáfora é a própria realidade: a cozinha é a mesma, o grupo idem, até mesmo muitos dos ingredientes estão constantemente no mise-en-place, mas a cada dia, a receita é diferente, os sabores mudam, muda a apresentação. E assim a vida segue, ora errando a mão, ora acertando...
Eu e a Di em Brick Lane!

oxford circus, 10.30 a.m.
Rosella praticando a guinea fowl. Detalhe: desconjuntamos o bicho no dia em que um amigo dela, VEGAN, veio almoçar aqui. Creio que ele jamais irá se recuperar do trauma...
Nenhum comentário:
Postar um comentário