quarta-feira, 1 de setembro de 2010

and it´s kind of bittersweet

Ontem minha mãe me lembrou de que eu tinha um blog. Sério, eu tinha esquecido completamente. Vim refrescar a memória por aqui e me dei conta de que o último texto datava do início do 2nd term na Cordon Bleu. E eis que agora, o intermediate cuisine está nos seus últimos lances, e eu passei esse tempo todo sem divagar nesse canal. Por pura falta de tempo. Mas como me fez falta a escrita em tantos momentos intensos dos últimos 3 meses...
Pois bem, comecei a trabalhar em um restaurante sensacional: Viajante, do chef português Nuno Mendes. Tô no pastry, aprendendo muito e dedicando quase todas as minhas horas - e forças - à cozinha. O cardápio é moderno, e como o nome do restaurante sugere, reúne influências das várias andanças do chef pelo mundo. É um lugar novo, abriu no início deste ano, fica em uma região inusitada/moderninha aqui de Londres (Bethnal Green), dentro de um design hotel que cotumava ser o town hall. A experiência tem sido intensa e reveladora. Comecei trabalhando em todos os dias em que não tinha aula. Se tivesse aula das 8 às 11, ia pra lá depois e só saía depois da 1 da manhã. Pedalando, muitas vezes na chuva, dormindo uma média de 4 horas por noite... aprendendo muito, mas também fazendo várias cagadinhas que andavam acabando com a minha já minguada autoconfiança. Semana passada, próxima de um burnout, fui até o chef pedir as contas. Jurando que ele daria graças a Deus por se livrar dessa parva que vos escreve. O homem é um tipo sinistro: grita, exige, pressiona e mete medo. Falei pra ele que tava exausta, que não conseguia fazer um bom trabalho nem ali, nem na escola e que não me sentia capaz de continuar nesse ritmo. Ao que ele me surpreendeu com a proposta de trabalhar menos dias e ter um tempo pra mim, falando que eu só precisava ser mais atenta e que já me considerava parte da família. Um momento de ternura vindo de um brutamontes é das coisas mais comoventes que podem existir! Adorei a idéia, e óbvio que aceitei, me sentindo reconhecida e um pouco mais tranquila - sim, porque até então andava sempre tensa na cozinha, em estado permanente de semi-pânico.
Essa semana já tô trabalhando menos, recuperando horas de sono e sinceramente, estranhando um pouco a quantidade de tempo à minha disposição. Mas adorando poder estar em casa, ler, rever os conteúdos do trimestre (amanhã já tem exame final escrito, e semana que vem, prova prática). E também ruminando muito essas minhas impressões sobre a rotina na cozinha... ali, em um restaurante bacanérrimo, trabalham-se em média 14 horas por dia. Nesses dias sem folga, meu sono, minha alimentação, meus cuidados pessoais, tudo isso foi completamente desregrado, e o desgaste físico é imenso. Perdi a conta de quantas vezes meus olhos se fecharam durante as demos na escola e não conseguia fazer mais nada, desde arrumar meu quarto a abrir meus e-mails, que dirá escrever! Lógico que a parte boa faz valer a pena, e acredito mesmo que o real aprendizado na cozinha só vem dessa forma. Mas me questiono, porque sei que não pretendo levar uma vida tão sacrificada por muito tempo. E sempre acreditei que um bom chef deve ter total controle e conhecimento sobre sua cozinha, de modo que essa não é uma das profissões em que com o tempo, a coisa fica mais relaxada e as horas de trabalho mais flexíveis - pelo contrário.
Por outro lado, sinto falta de estudar, pesquisar, escrever e entrar na parte mais acadêmica da alimentação. Conhecer e falar sobre lugares, diversificar meus ambientes de troca e convívio, me aprofundar na culinária francesa - que é o que eu vim aqui aprender... quero fazer tudo isso. A cozinha me fascina, e quero me manter dentro dela, mas a idéia de dedicação exclusiva não me agrada tanto. Até mesmo pelo sinal claro que meu corpo me deu há alguns anos quanto à sobrecarga e ao stress. Quero qualidade de vida!
A área que eu escolhi fascina pela gama de opções que oferece, e ter esse insight não altera em nada minha paixão pela comida, pela cozinha e pela vida nesse universo. Só me faz abrir os olhos pra outras possibilidades, e neste momento meus dedos coçam pra escrever sobre meus planos pra 2011. Mas vou me reservar quanto a isso, esperar as peças se encaixarem.
No balanço geral, posso dizer que com essa folga extra que ganhei, fico em paz, feliz e com tempo pra definir os próximos passos.
E no mais, a vida segue muito bem: paz no lar, depois de algumas rusgas com a minha roomie; coração alegre e saltitante; e a vida escolar cada vez mais interessante. Agora em setembro tenho férias bem longas, nas quais devo trabalhar mais, e se tudo correr bem, em outubro começa a etapa final do curso. Nem dá pra acreditar em como o tempo tá voando e as coisas acontecendo em uma velocidade absurda!
Vou dormir agora, pra chegar bem à minha prova amanhã de manhã. Wish me luck!
(Saudades dos pedaços de mim espalhados por esse mundo)

2 comentários:

  1. ...cada vez me convenço mais que o StudioClio tem uma herdeira! A lo mejor, parceira, quando voltar. E veja bem: trabalho uma ou duas vezes por semana, mais um banquete mensal, dever de viajar, prazer de se expressar bem, estacionamento pago e banheiro limpinho!

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