domingo, 11 de abril de 2010

Now we´re talking!

Domingo já se firmou como dia oficial de regar o blog. Em Londres, em Porto Alegre, na Bíblia, em qualquer canto, o 7º dia se presta ao descanso e à contemplação, com a recarga das baterias pra semana que começa. Sendo assim, cá estou eu, debaixo das cobertas, contemplando as fotos dos últimos dias, e com as energias devidamente abastecidas depois de um risotinho e uma overdose psicodélica de macarons de todas as cores.

Ontem, enquanto eu corria e viajava na maionese (atividades que eu gosto muito de desempenhar simultaneamente), pela primeira vez enxerguei minha situação atual em 3D. Explico: até há pouco, minha euforia diante de todas as descobertas e mudanças vinha me fazendo sentir um tanto "boba-alegre", alheia a qualquer ônus que a minha condição pudesse implicar. Mas uma solidão imensa me mostrou que ficar solta no mundo não é só alegria; que depois de 10 horas de trabalho, tudo o que eu quero é encontrar meu namorado em casa e contar pra ele como foi meu dia; que um parque lindo que eu descobri teria muito mais graça com um piquenique com meus bons e velhos amigos e que quando eu atravesso a cidade sozinha de madrugada, sinto é falta da minha mãe ligando, querendo saber onde eu tô e se tá tudo bem. Encarar tudo isso não me faz pensar em voltar atrás, de jeito nenhum. Eu diria até que enxergar as pedras do caminho ajuda a me apropriar ainda mais da experiência, concluindo que a parte boa vale - e muito! - a pena. Ainda assim, me identifiquei quando vi esse retrato da Amy fincando pé no seu tão amado cantinho no mundo. Se ninguém pode ficar entre ela e Camden, digo que nem a distância pode ficar entre mim e as pessoas que eu mais amo. A gente vai encontrando maneiras de se manter pertinho, não é mesmo?
Feitas as divagações (que tendem a dar pinta por aqui every now and again), admito que sei de onde essas idéias surgiram: comecei a trabalhar, e com isso adquiri uma rotina que vai ajudando a fincar minhas raízes nessa terra, pelo menos por um período. E agora em um emprego quase bom demais pra ser verdade: um restaurante de alta gastronomia, uma vaga de aprendiz, horários flexíveis, sem trabalho nos finais de semana E remunerado! Como diria minha housemate Amanda, "quer me agradar?"! Era tudo o que eu idealizava: ter a chance de aprender, sem maiores responsabilidades, sem comprometer meus estudos e trabalhando com um cardápio recheado de ingredientes e técnicas com as quais eu começo a me familiarizar.

O nome do restaurante é Sauterelle http://www.restaurantsauterelle.com/restaurantsauterelle.com/), e ele fica no Royal Bank Exchange, em uma região que concentra escritórios, bancos e afins. Não vou falar muito no cardápio e na decoração porque ainda não tive tempo de tirar fotos, e nesse caso, elas falariam por si. Mas é pra já, prometo! Por enquanto me limito a apresentar a fada madrinha que me arranjou essa baita oportunidade: a Mel, responsável por boa parte da cafeína que circula nas mentes pensantes dos poderosos de Londres. E com muita competência: o café dela é o melhor que eu já tomei por aqui até agora (e que a minha dermatologista não leia isso, mas eu tenho tomado litros de café). Pois entre os clientes da Mel está o Robin, chef do Sauterelle, e foi ela quem deu meu currículo pra ele. Além de ter mãos de fada-barista, ela é uma queridona e ainda me deu essa barbada de bandeja! Cá pra nós, todos os anjos da guarda que perderam o avião pra Austrália 4 anos atrás, dessa vez vieram em comitiva comigo pra Londres, e agora trabalham dobrado!



Um dos pontos altos da semana foi meu primeiro double shift, na sexta-feira. Trabalhei das 8h às 15h e depois das 17h às 23h. No intervalo, o sous chef me levou pra conhecer as redondezas, e eu finalmente conheci nosso vizinho mais interessante: o Borough Market. Quem me conhece sabe que me soltar em um mercado ou feira equivale a soltar criança em pracinha. Se tivesse chegado lá sozinha, já teria feito a festa; com um cozinheiro local como guia, então...





Nossa primeira parada foi o Neal´s Yard, um templo de devoção ao queijo. De todas as variedades ali expostas, eu devo ter provado uns 10%, e reparem que eu comi uns 18 pedaços de queijos diferentes. Nem almocei naquele dia, e só fui sentir fome na manhã seguinte. Eram queijos britânicos, e cada um deles ostentava uma plaquinha indicando o tipo, o nome do produtor e o local de origem. Cada funcionário conhecia profundamente o produto que vendia, e sabia descrever minuciosamente as características e propriedades de cada variedade. Eu só sabia dizer "very good" enfaticamente, vou ter que estudar um pouco antes de voltar lá pra não passar vergonha...


















Próxima parada: Monmouth Coffee Company. A essas alturas, o Dean, sous chef/guia já tinha sorrido umas 4 vezes e eu ia deixando de ter medo dele. Quando ele disse que aquele era o melhor café de Londres, contudo, não quis contrariar mencionando a Mel, e aceitei um espresso. Descobri o 2º melhor café da cidade. A Monmouth é uma companhia de torrefação que começou modesta, em um porão em Covent Garden, sempre com a idéia de descobrir grãos "interessantes" e apresentá-los aos clientes. Hoje eles compram grãos de pequenas fazendas e cooperativas ao redor do mundo - yes, havia café brasileiro no menu -, conhecendo cada produtor e os métodos empregados para obtenção dos respectivos cafés. Resultado: um cuidado e respeito para com a bebida que me faz maldizer cada vez que eu botei os pés nos onipresentes Starbucks pela vida afora.

Pós café, uma passada na L. Booth, fornecedora dos vegetais usados na cozinha do Sauterelle, onde eu encontrei uma abundância de cores e formas até então estranhas pra mim, tipos de cogumelos que eu nunca tinha imaginado e ruibarbo em estado natural, que eu nunca tinha visto. Nessa hora a bateria da câmera acabou e eu não pude documentar minha euforia diante dos frutos do mar, mas vou virar freguesa do Borough Market, sem dúvida. Não vejo a hora de ter double shift de novo pra passar todo o intervalo por lá, olhando, tocando, experimentando, fotografando...







Weekend, once again. Minha corrida reflexiva foi no Alexandra Park, nova descoberta aqui pertinho de casa. Na direção da zona 4, Londres volta a ser bonita e agradável, com ares de cidade pequena, e esse parque fica em um ponto alto de onde se tem uma vista linda! Os dias aqui começam a ser ensolarados, e à tarde no sol dá até pra usar bermuda e camiseta sem sofrer. No final do dia, a coisa muda bastante de figura. Aprendi isso ontem lá pelas 19h, quando minhas pernas ficaram roxas, trêmulas e arrepiadas a la frango depenado, e eu fui obrigada a voltar pra casa, depois de um piquenique em London Fields. Era despedida do meu primo Chico, que passou um mês aqui e até agora eu não tinha encontrado. Unfortunately, porque a tarde na companhia dele e de toda a turma foi muito gostosa, queria ter conhecido antes...!

E hoje, a cereja glamourosa do bolo semanal: café com praliné plaisir na Ladurée. Fui até a Harrod´s pra comprar facas, mas quando entrei naquele lugar e vi aquelas pirâmides de macarons esqueci as facas, as calorias e o mundo lá fora. Fiz minha caixinha com um macaron de cada cor e voltei pra casa saltitante, não sem antes balançar minha sacolinha pelo Hyde Park.
E assim foi. Com o despertador marcado pra daqui a 5 horas e meia, paro por aqui.
Boa noite e boa semana!

4 comentários:

  1. Mari, que legal que tu tá num restaurante bacana! Teu blog tá muito legal! Beijos, Ana. P.S.: que vontade de comer esses macarons!!!!

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  2. Mariii..

    quando tu tiver um tempo livre, ali pertinho do Alexandra Park tem um rink de patinação no gelo.. bom passatempo pra esquecer o stress, cair um pouco e rir um pouco.. e fica aberto até bem tarde (por volta das 23hs..). Sair de lá à noite depois de uma hora de frio no nariz e bunda dolorida e ver a vista da cidade iluminada é priceless.. fica no ponto mais alto do bairro e se chama Alexandra's Palace. Ficadica. Saudadonas..

    ps. se tu decidir patinar, por favor, não esquece de usar luvas!

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  3. Queridona!!!
    Que horas tu volta pra casa? te agasalha!! Como foi teu dia? Deixou um macaron pra mamis?Que saudade, filhinha. E que orgulho dessa filha que se dá tão bem com uma caneta quanto com uma colher de pau na mão!!!

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  4. Orgulho e exemplo da mana. Tô babando com esses teus posts! Te cuida e aproveita muito. Te amo.

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