segunda-feira, 26 de abril de 2010

fast life, slow food

Andei entrando numas de só estudar e trabalhar e fiquei com a impressão de que não tinha mais nada de interessante pra falar. Mas nada que um livro novo, uma noite divertida e a primavera que invade a cidade não pudessem resolver...
Depois dos momentos dramáticos no restaurante (ver post anterior), veio o fim de semana. Sabadão de sol, rumei pra Wilesden Green, no apê dos meus colegas portugueses: era dia de apresentar a feijoada brasileira pra gringaiada da escola. Nem panela havia na cozinha, e depois de gastar vários pounds em insumos, bateu um medinho de que não aparecesse ninguém pra rachar a conta e mandar ver. Fui pra cozinha e saí a preparar tudo, cantarolando a Feijoada Completa do Chico Buarque pra me certificar de que não me esquecia de nada. Aos poucos, a campainha começou a tocar, o povo começou a subir, e quando as panelas fumegantes saíram da cozinha, já tinha um batalhão de prontidão, embalado pela caipiroska e pelo tinto de verano providenciado pelos portugas. Tinha colega indiano, coreano, norueguesa, grego, americana, húngaro, sueco... e o nosso prato fez bonito, toda essa torre de babel comeu, repetiu e lambeu os beiços! A day party rendeu até capítulo especial pro reality show do meu colega coreano. Por falar nele, descobri que o Lee é um diretor super premiado. Ele dirigiu um documentário chamado Noodle Road, que mostra a cultura do macarrão no oriente. Só o preview já é emocionante, vou tentar assistir ao filme todo essa semana e posto mais comentários por aqui.
Durante a semana, no trabalho, o clima melhorou bastante. O Dean (cozinheiro do chilique) se emendou, foi gentil, paciente e até divertido na maior parte do tempo. Não sou de guardar rancor, fiquei amiga dele de novo e agora tá tudo em paz. Ele ainda me disse pra começar a fotografar os pratos e fazer anotações, coisa que eu pensava nem ser permitida dentro da cozinha. Mas é pra já, tava louca pra fotografar tudo, a partir de quinta-feira, cada pedido é um flash!
Depois de umas três semanas sem sair, quando a última sexta-feira chegou eu tava com o pé que era um leque! Saí na sexta com as gurias que moram comigo e até levantei os bracinhos quando tocaram Black Eyed Peas! A idéia era have fun, no matter what. No sábado, fui rever o Holland Park, depois de 15 anos, e digo que é muito mais bonito do que eu lembrava. Cheio de recantos, jardins floridos, tulipas de todas as cores... Nos gramados, piqueniques, ingleses freaks brincando de pegar (pessoal na faixa dos 40, mais ou menos), as crianças mais cuxicuxi do mundo - depois da Olívia, claro -, solzinho... life is beautiful, after all! À noite, fui jantar em Covent Garden com os meus colegas e depois fomos ao Favela Chic. Tava louca pra conhecer o lugar, um misto de favela brasileira e glamour francês, na sua Old Street branch. A decoração é bem a la Rocinha mesmo, as caipirinhas são ótimas, mas o DJ tava mais fora da casa do que seria de se esperar... Foi divertido, anyway, mas acabou cedo e nós tivemos que peregrinar atrás de uma festa que nos aceitasse. Unbelivable em uma cidade dessas, mas nada feito. Nossa noite acabou em um restaurante chinês em Picadilly, frequentado por cafetões e suas funcionárias, e a comida... bom, melhor deixar pra lá.
Como boa geek que eu sou (quando isso aconteceu???), no momento o que mais me empolga são minhas aulas e o livro que eu tô lendo. Conta a história do movimento slow food, contada pelo seu fundador, Carlo Petrini, em conversa com o jornalista Gigi Padovani. A forma como o movimento pretende salvaguardar aqueles alimentos ligados à cultura de pequenas comunidades, por vezes produtos ameaçados de extinção, tem tudo a ver com a proposta de um trabalho que eu desenvolvi no ano passado. (Caso alguém que não me conhece leia esse blog, explico: meu trabalho de conclusão na faculdade de direito defendia a extensão da proteção reforçada da OMC a todos os produtos dotados de indicação geográfica. Tomando como base o regime europeu de denominações de origem controlada, appelations d´origine e afins, quis mostrar que o mundo inteiro está repleto de produtos dignos de tal proteção. O Brasil, com a sua biodiversidade, é um exemplo claro.)Tenho muita vontade de daqui a um tempo voltar pro meu país e fazer uma incursão pela Amazônia, pelo Cerrado e pelos demais ecossistemas brasileiros, conhecer o que a nossa terra oferece... ler a respeito das origens do Slow Food reacendeu essa vontade! Quero entender até que ponto as comunidades são cientes do valor daquilo que produzem, saber de que tipo de proteção os conhecimentos tradicionais e as sementes nativas gozam no mercado nacional e internacional, e lógico, quero usar nossas iguarias na minha cozinha!
Engraçado, hoje mesmo um chef americano me adicionou no Facebook e nós tivemos uma discussão acalorada sobre esse tema... Até me exaltei, mas é um risco que se corre quando se trata de um assunto que apaixona. Felizmente, não houve mortos e feridos e o debate foi até bem produtivo!
Sem dúvida essa história ainda vai dar muito pano pra manga... Por enquanto, eu paro por aqui, já que a prosa é longa e a aula começa às 9h.
Beijocas saudosas!
P.S.: fiquei com preguiça de arrastar cada foto pro seu devido lugar, então elas estão aí abaixo, com as respectivas legendas:

Fingindo que medito no Kyoto Garden, Holland Park;
Eu e o Zé no preparo da feijoada (na hora da foto o povo se aprochega ao fogão...);


Intervalo com Weiss Bier e meu colega Nikolaos; 
Andando no meio das flores;
Contrastes do Holland Park;

Favelando...

2 comentários:

  1. Eu comeria uma feijoada agora..

    =**

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  2. ô Dona Mariposa, teus seguidores aguardam ansiosamente teu novo post. Escreeeeve!!! Mamãe

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