domingo, 4 de abril de 2010

A escola e a cidade

Paul Boulangerie: não é o Xirú Beer, mas já é alguma coisa...





Brick Lane e suas barraquinhas delícia...


Batizei este post com uma paródia besta do nome do seriado onde o sexo e a cidade são os principais protagonistas. Pois no meu caso, Londres e as recém iniciadas aulas norteiam todos os meus passos e pensamentos. Nos primeiros dias livres que eu tive por aqui, cheguei a ficar tonta com a quantidade de lugares a conhecer e coisas pra fazer, mas na medida em que os melhores momentos do dia foram os menos programados, relaxei e comecei a me deixar levar pela cidade. Pelo menos nos primeiros dias.
Lógico que no que diz respeito à escola, não é bem assim que funciona. Horários e códigos estritos de conduta são a nossa rotina, e na primeira semana isso já ficou bem claro. Começamos com um curso de 1 dia (sábado!) sobre higiene e segurança, com direito a prova no final. Na segunda-feira, iniciaram as aulas propriamente ditas. Funciona assim: 3h de demonstração, com um grupo de umas 30 pessoas em uma sala onde um chef prepara uma ou mais receitas. Nosso caderno contém somente os ingredientes necessários, e cabe a nós anotarmos o processo todo. Pra essa aula, é exigido o uso das calças e do casaco do uniforme, enquanto que nas práticas são obrigatórios também avental, sapato de segurança, chapéu, rede de cabelo, e panos.
Terminada a demonstração, com os pratos montados, o chef libera as fotos e degustações. Intervalo. A próxima aula será prática, também com duração de 3h, para execução das receitas ensinadas. Pras aulas práticas, ficamos separados em grupos de dez pessoas, e cada aluno recebe os insumos pra realizar sozinho todas as receitas. Até agora, considerei essa a principal diferença entre o curso que eu fiz no Brasil e a Cordon Bleu, já que no primeiro as aulas práticas eram ministradas ao grande grupo. A turma de 32 pessoas ficava em uma cozinha dividida em grupos de 5 ou 6 e cada um desses grupos deveria apresentar todas aquelas receitas ao final da aula. Assim era normal que entre 6 pessoas, aquela que cortava melhor cuidasse dos cortes, a doceira de mão cheia cuidasse das claras em neve, os guris - mais fortes - quebrassem os ossos e juntas dos bichos, e assim por diante. Ou seja: as deficiências de cada um tendiam a seguir presentes, sem oportunidade de serem corrigidas.
Pra introduzir os alunos ao padrão de excelência Cordon Bleu, nada melhor do que uma aula de cortes, onde 1mm faz TODA a diferença. Uma julienne perfeita nunca foi meu forte, mas em dois dias de aula aqui percebi uma evolução impressionante. Isso porque no final da aula, o chef analisa cada prato minuciosamente, e ninguém quer ouvir dois dias seguidos a mesma crítica, então o jeito é buscar a perfeição. E as exigências não se limitam à técnica ensinada na demonstração: o chef examina uniforme, barba dos homens, jóias, penduricalhos, redinha no cabelo, sapato apropriado, apresentação dos pratos, organização da estação de trabalho... todo e qualquer detalhe!
Julienne, Brunoise, Macédoine, Bouquet Garni, Cisellé, thinly chopped...

As aulas vão de segunda a quarta, seis horas por dia. Nos intervalos entre as demonstrações e as práticas, eu passeio pelas redondezas da escola, que fica em uma das regiões mais charmosas da cidade. A Marylebone High Street concentra um monte de cafés, pâtisséries e boulangeries deliciosos, além de ser walking distance de Mayfair, com suas vielas recheadas de restaurantes e lojas de babar. Fotos serão sempre postadas! Como a da Paul boulangerie, abrindo este texto, onde eu almocei um sandwich provençale na semana passada, com pimentões, coração de alcachofra e emmenthal, bommm...!
Já falei que meu itinerário aqui se baseia no universo gastronômico e na infinidade de opções interessantes que a cidade oferece. Tentando encontrar um método pra desbravar Londres, dei de cara com um sem número de livros, revistas e almanaques com os 100 programas imperdíveis na cidade, milhares de resenhas de restaurantes, uma verdadeira overdose de opções! Até que, enquanto esperava uma amiga em uma livraria de Notting Hill, me deparei com um livrinho miúdo, chamado London Gourmet. Nele encontrei dicas gastronômicas de insiders, lugares escondidos, mercados pela cidade, padarias, peixarias, açougues, delicatessens, lojas de vinhos e preciosidades afins. Um texto gostoso de ler, que dá vontade de conhecer cada lugarzinho no mesmo dia! Decidi que vai ser meu guia por aqui, vou conhecer tudo o que meu tempo e meu orçamento permitirem e dividir cada descoberta com vocês. A primeira foi o Paul, em seguida tem mais.
A Páscoa por aqui foi movimentada, com visitas às Tates - Britain e Modern, passeios por Notting Hill, Camdem Town e Brick Lane e uma noitada tipicamente londrina, at last!
De cima para baixo: entrada (convidativa, não?) de banheiro feminino em um café-balada vespertino da Brick Lane; teto (em todos os sentidos) da Tate Britain; obra de Miroslaw Balka na Tate Modern (um mergulho na escuridão); obra de arte contemporânea em exposição na Tate Britain e calçadinha em Camdem Town.
Não aguentava mais sair pelas bandas da Leicester Square, com suas hordas de turistas e músicas pasteurizadas que tocam em qualquer biboca desse mundão. Fomos pra Clapham Common, em um lugar chamado The Lost Society, e esticada na vizinha Artesian Well. Música muito boa, povo bonito se divertindo sem porraloquice, diversão decente. Nem chegou aquele momento que já vinha se tornando costumeiro, quando eu olho em volta e penso comigo: "o que mesmo eu tô fazendo aqui?" (normalmente isso acontece quando um bêbado vem conversar comigo e de cada duas frases que ele diz, uma é "you smell really good". Com a Beyoncé aos berros de trilha sonora. Deuzulivre...).
Em Brick Lane eu vi um festival de gente estilosa, pavilhões e mais pavilhões de feiras vintage, baladas diurnas com fila na porta, barraquinhas de comida de todos os cantos do planeta, mega liquidação da American Apparel, um burburinho maravilhoso. E pechinchas imperdíveis! Aliás, vou dedicar um post só aos achados dessa cidade, à quantidade de coisas lindas que se podem pagar com moedas!

Sintam o pessoal da barraquinha de comida japa, se não tivessem sorrido pra foto eu juraria que eram da Yakuza...
By the way, gente, me estendi, né? Vou parar por aqui porque já são 1 e meia da manhã e amanhã a idéia é acordar cedinho pra catar uma day trip partindo da estação de King´s Cross. Beijos e abraços impregnados da melancolia dominical: depois de tantas atividades, me bateu uma saudaaade de casa!

4 comentários:

  1. Querida,
    resolvi bisbilhotar o teu blog e tive uma grande e feliz surpresa. Nunca tinha lido nada do que a senhorita tinha escrito, gostei mto do jeito que escreve. Se a culinária na culinária não der certo (o que sabemos que não vai acontecer), pode se dedicar a escrever que não morrerá de fome.
    Vou passar a acompanhar a tua vida por aqui, pelo menos de alguém vou saber notícias.
    Se cuida aí.
    Beijos.
    Igor

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  2. Maricóta, tudo que tu conta.. cada detalhe me enche de saudade e curiosidade. Que demais! Minha felicidade transborda desse lado do oceano.. fico imaginando tu falando, contando e vivendo tudo isso. Continuo na torcida! Mil beijos da bicuda!

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  3. Ai, Mary, coisa boa ficar sabendo dos detalhes da tua rotina! Tá tudo muito lindo, principalmente aquele poster do banheiro... hehe! Amo tu. Beijo.

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  4. Ai, Paul do meu coraheart! Aquele lugar é demais, neam.. se as coisas não fosse tããão gostosas, não daria pra comer, de tão lindas!

    Chegou a ir na livrariazinha só de culinária de Notting Hill?

    Ah, sei que não é o motivo que te levou a londres, mas juro que é importante: aprende a fazer aquelas meat pies dos gods que existem por aí, please!

    Amo tu, tatu!

    =*

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