segunda-feira, 3 de maio de 2010

comida, diversão e arte

Idéias que deveríamos importar: sempre que um feriado cair no sábado, transfira-o para o dia útil subseqüente. É assim que o povo aqui faz, e no caso do 1º de maio, a prática resultou em uma segunda-feira com cara de domingo: dia de dormir até tarde, movimentos vagarosos, passeio sob o sol e... blog!de cima pra baixo: água; terra; fogo e ar.
cordeiro antes......e depois! Foi por uma causa nobre.

Conforme prometido, esse post vem recheado de fotos "da firma". Na semana que passou, registrei tudo, em fotos e anotações, já que eu comecei a ficar responsável pela montagem de alguns pratos de entradas e sobremesas. Dá um friozinho na barriga, sim. É impressionante como mesmo sabendo de cor e salteado como eu devo proceder na teoria, na prática às vezes me dá um branco. Taí um problema que eu percebo em mim desde o início, que é oposto ao da maioria dos cozinheiros que eu vejo por aí: me falta auto-confiança. Enquanto a minha classe é notória pelos egos inflados, eu não consigo me ver com tamanha benevolência... e não se trata de falsa modéstia, não! Acredito, sim, que humildade é virtude e das mais fundamentais, mas excesso de insegurança não leva ninguém pra frente. Pronto, despejei aqui no blog/divã aquela que considero a minha maior deficiência.
Amanhã na escola teremos o tutorial, que é uma auto-avaliação que os alunos fazem na presença do chef-mentor. Já sei exatamente o que vou falar, e agora vocês sabem também. A idéia é apontar aspectos positivos e negativos de cada um e estabelecer metas a serem alcançadas, com prazos definidos e o acompanhamento implacável do mentor. Tudo bem que sinto isso muito mais no trabalho do que nas aulas, mas ainda assim, é na escola que eu tenho a oportunidade de corrigir essas imperfeições com mais calma.
E já que o assunto é trabalho, resolvi procurar outro emprego. Por uma série de razões: 1) $$, claro. A vida aqui é cara, minha gente! E não me refiro apenas às despesas fixas, como aluguel, transporte, alimentação, celular, etc. A questão é que Londres oferece muitas opções de cultura e diversão, e com o fim-de-semana inteiro livre, pra fazer o que eu quiser, chega a parecer pecaminoso não desembolsar uns pounds que outros em uma pechincha de um market qualquer, ou em um café quentinho e aconchegante nessas tardes frias, ou em 2 ou 9 drinks naquela noite espetacular... De maneira que até emprego não-remunerado tá valendo, se for um lugar onde eu aprenda coisas novas. É menos tempo livre pra esvaziar minha conta bancária. 2) Loneliness. Sou bem chegada ao eremita way of life, mas aqui tem horas que cansa. Porque eu ainda não criei amizades no nível de ficar-junto-quieto-sem-fazer-nada. E tem horas em que eu simplesmente não tô a fim de ligar pras pintas e inventar um programa suuuuper legal pra gente fazer. De modo que em certos dias, eu passo muito tempo sola, solita. Às vezes é bom, às vezes é down. Acho que o excesso de tempo livre, after all, me enfara... 3) Voltando à idéia do trabalho-não-remunerado-pelo-aprendizado: com essa idéia na cabeça, me dirigi à Neal´s Yard Dairy, aquela loja de queijos de babar sobre a qual eu falei alguns posts atrás. Tenho esse interesse especial em produtos locais, essencialmente ligados à região de origem. Produtos vivos, que evoluem, que se apuram. Vinhos são o exemplo máximo, e queijos se enquadram perfeitamente nessa categoria. Adoraria trabalhar lá aos sábados, conhecer os processos de produção de cada queijo, entrar em contato com os produtores, aprender a identificar e descrever os sabores... Já mandei meu CV e um e-mail rasgado de elogios sinceros, a ver no que dá...
Anyway, esse fim de semana que passou ainda era quase que 100% livre. (Quase porque no sábado eu tive que ir até a escola preparar um boeuf bourguignon. Que ficou delicioso, por sinal, e lindo, com a torrada em forma de coração on top!). Pós aula, o céu enfaruscou e eu fiquei em casa até à noite, quando meu amigo Bader me ligou pra gente fazer "something crazy", nas palavras dele. Lá fui eu pra Charing Cross, rumo ao 79ers, um bar gay das antigas, onde me deparei com uma festa temática: bartenders trajando saias e colares havaianos (y nada más), drinques com guarda-chuvinha, e coisital. Nada melhor que uma festa gay pra elevar a moral de uma mulher nessa cidade. Sério. Ninguém naquele ambiente tinha segundas intenções comigo (tirando duas moças recostadas no balcão), mas eles não cansavam de me chamar de gorgeous, stunning e perguntar onde eu tinha comprado minha blusa de oncinha. E as coreografias a la Dirty Dancing? Me senti a própria Liza Minnelli, que segundo meu amigo Pato, justificou o amor que o público gay tem por ela com a seguinte frase: "eles me amam porque têm bom gosto!". Rá. Problemas de auto-confiança, oi? O Bader, que é de casa, afanou um item da decoração e saímos com uma banana boat debaixo do braço à cata de outro estabelecimento do gênero. O sucesso que nossa aquisição fez pelo caminho... Acabamos chegando a uma portinhola no Soho que escondia uma pista ensandecida, bartenders em trajes ainda mais sumários e uma legião de homens lindos que nem tomaram conhecimento da minha existência. Perfeito pra dançar escandalosamente no palco sem correr risco de assédios desmedidos.
No domingão, eu e minha amiga - e seguidora desse blog, que linda! - Marta apresentamos a Brick Lane pro Bader, que caiu de amores por uma loja de roupas bem pitoresca, por assim dizer. Antes do fitting, no 1001cafe, pensei comigo que quero ter um lugar bem naqueles moldes quando voltar pro Brasil: sofás, pufes e poltronas pro povo se jogar enquanto saboreia delícias, sorve cafés ou beberica vinhos de uma adega de 1ª; um cardápio que se adapte a qualquer momento do dia, do café-da-manhã ao jantar; livros, revistas e boa música... praticamente um Éden!
Encerrando meu feriadão, hoje acordei preguiçosa, e o sol também. Quando ele finalmente decidiu se colocar em frente das nuvens, tomei coragem e saí de casa (o frio enregelante voltou, a primavera foi um alarme falso). Rumei pra National Gallery e lá me perdi pela tarde afora... encerro esse post com fotos clandestinas de uma obra retratando os 4 elementos (ar, água, fogo e terra) por meio de alimentos. O artista é Joachim Beuckelaer, e a obra data de 1569.
Comida, confere; diversão, confere; arte, confere. Ça c´est tout!
Fotos bagunçadas, como de costume. Abaixo: Boeuf Bourguignon apaixonado; Miss Marta mandando ver na caipa do 1001; colegas no LCB e colegas no Sauterelle.
Ballantines, apple purée, guinea fowl skin, sous vide chicken breast...

Bjomeliga!

2 comentários:

  1. O Júlio me arrastou pro Astoria (Tottenham Court Road, quase esquina com a Oxford Circus)numa segunda-feira, a noite gay. Um festival de homens lindos olhando na nossa direção, mas que, ao seguir atentamente seus olhares, reparei que eram todos para o Júlio, que saiu de lá com o caderninho mais recheado do que de costume. Ótimo pra inexistente auto-estima de uma nova-gorda. Enfim. Se serve pra contar história, tá valendo.

    Quanto a ligações mais profundas com as pessoas daí, liga pra Tati, que creio que também deve estar em uma nova fase de adaptação por aí..

    Queria tomar todos os cafés do mundo contigo por aí, provar todas as tuas gororobas, conversar fiado por horas, ou ficar em silêncio por horas...

    =)

    saudades, queri. de verdade.

    luv u!

    =**

    ResponderExcluir